segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

História dos Surdos em Portugal

A história dos surdos em Portugal divide-se em três períodos: metodologias gestuais com suporte na escrita; metodologias oralistas e implementação e desenvolvimento do Modelo de Educação Bilingue para Surdos.
O primeiro período, denominado como metodologias gestuais com suporte na escrita decorre entre 1823 a 1905. A pedido da filha de D.Isabel Maria foi criado pelo professor Per Aron Borg, em Lisboa, o primeiro instituto de “surdos-mudos”, mantendo-se aberto depois de muitas controvérsias até 1860. Passados dez anos o Padre Pedro Maria Aguiar fundou em Guimarães um instituto com o mesmo propósito, mas com a sua morte o sobrinho, Eliseu Aguiar levou o instituto para o Porto. Mas, a câmara de Lisboa convidou Eliseu Aguiar para ocupar o lugar de director do instituto para “surdos-mudos” que fora criado, extinguindo o instituto do Porto. Estes institutos aceitavam surdos dos dois sexos, podendo ter um regime interno ou semi-interno. Mas, devido a más irregularidades praticadas pelo Eliseu Aguiar, o instituto passou a ser chefiado por João José Teixeira e de seguida por Miranda de Barros. Mais tarde, a câmara de Lisboa faz a separação dos sexos do instituto. No Porto com a extinção do instituto, a cidade ficou sem escola para o ensino dos surdos. Sendo só mais tarde que é inaugurado o Instituto por José Rodrigues Araújo Porto. Com a separação dos sexos do instituto e da passagem de um lugar provisório para um edifício próprio o instituto passou a denominar-se de Instituto de Araújo Porto, como homenagem ao seu criador. As metodologias utilizadas eram: entre 1823 e 1828, a comunicação entre aluno e professor era baseada no método gestual e na dactitologia (alfabeto manual), os surdos deveriam ter acesso à leitura e à escrita e a uma profissão que proporcionasse a sua autonomia; entre 1891 e 1892, o professor Miranda de Barros começou a utilizar os métodos oralistas opondo-se à língua gestual; por volta de 1900 há a introdução do método oralista por Luís António Rodrigues e Nicolau Pavão de Sousa que regressaram de Paris para irem para o Instituto Araújo Porto.
O segundo período, denominado como Metodologias oralistas: método oral, método materno-reflexivo e método verbotonal decorre entre 1906 e 1991. O instituto de “surdos-mudos” passou a chamar-se Instituto de “surdos-mudos” Jacob Rodrigues Pereira (IJRP). Mas, o seu funcionamento começou a ressentir-se devido à quantidade de asilos municipais que havia. Em 1942, iniciou-se a remodelação do IJRP, sendo as suas alunas transferidas para congregações religiosas e mais tarde para o Instituto de Surdos Araújo Porto. Em 1950, o Provedor Campus Tavares representou Portugal num congresso dos Países Baixos aonde discutiam os métodos modernos do ensino de surdos. E, mais tarde participou em outro congresso que se realizou em Roma. Com estes congressos, em 1952 criou a Associação Portuguesa para o progresso do ensino de surdos e enviou o professor António Amaral para Manchester para se especializar no ensino de surdos. Em 1963, a designação “surdo-mudo” começa a desaparecer. Em 1979 foi criado um centro de diagnóstico e despiste da surdez com o objectivo de ajudar os pais e crianças no melhor encaminhamento. As metodologias utilizadas eram: método natural (o treino auditivo e da fala eram feitos de forma natural); método materno-reflexivo (a criança na fase pré-linguística pode aprender a falar uma língua materna pelo meio oral) e método verbotonal (defende que a função da língua é a expressão do significado através do som).
O terceiro período, denominado por modelo de Educação Bilingue decorre de 1992 até aos dias de hoje.Com o estudo da eficácia do método oral era necessário a utilização de uma outra metodologia, isto é, o método bilingue. Baseava-se no ensino de surdos, com base na LGP sendo a primeira língua de surdos. Em 1993/94 no IJRP foram apresentadas algumas linhas de orientação na intervenção educativa em que constava que o processo de reabilitação é um processo sequencial que vai desde o diagnóstico até à sociabilização e que este processo implicava a intervenção de uma equipa multidisciplinar. Atendendo à criança surda, este processo implica um projecto educativo individual, reconhecendo a língua gestual portuguesa como a língua materna da criança com surdez profunda e que este deve-se inserir no Bilinguismo.

O bilinguismo assenta no ensino pela língua natural (LG), para que os todos os alunos tenham acesso à informação pela língua que têm mais significantes para si. Assim as crianças surdas podem ser tão desenvolvidas como as crianças ouvintes, podendo exigir-se o mesmo e ambos.
Este método de ensino também se caracteriza pela existência de um educador surdo, que serviria de exemplo para as crianças, proporcionando que as crianças criem uma imagem própria positiva, pois têm a imagem de um adulto com sucesso e portado de surdez.
Este método de ensino é mais evidente nas escolas de referência, onde a população surda em maior numero. Estas escolas de referência são “especialistas” na educação de surdos, tendo um grande numero de educadores surdos e uma equipa multidisciplinar, constituída por professores de ensino especial, terapeutas da fala e intérpretes de língua gestual.
Existe a necessidade de reconhecimento do estatuto da língua gestual portuguesa como língua materna; introdução da língua gestual como elemento integrante dos currículos escolares e incentivo de aprendizagem da língua gestual por parte dos ouvintes. As metodologias utilizadas eram: a criança surda deveria aprender através da sua língua materna adquirindo como segunda língua a língua portuguesa (oral); a educação deveria ser realizada em ambientes que possibilitem um maior desenvolvimento tanto cognitivo como linguístico, emocional e social e que o acesso à informação seja feito de forma directa.

1 comentário:

  1. O artigo é interessante, e pessoalmente me ajuda muito no conhecimento histórico das línguas gestuais ou de sinais em geral da LGP em particular. O meu muito obrigado

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